25 palavras para pensar 2025

12 de dezembro de 2024

Como você definiria o ano que está acabando? E o que imaginar para o que está chegando? Enquanto a humanidade é confrontada com a prevista — e agora real — crise climática, também observa a escalada das guerras, uma das suas mais antigas mazelas. No Oriente Médio, há décadas não se via tamanha violência, enquanto o conflito entre Rússia e Ucrânia entra no terceiro ano sem bandeira branca à vista. Um mundo que está em veloz transformação, capitaneada pelo avanço tecnológico que muda a vida das pessoas em diversas frentes, da economia ao dia a dia dos trabalhadores, das salas de aula ao campo. Transformação essa que muda também a estrutura do próprio tecido social, com desdobramentos ainda imprevisíveis.

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Para organizar esses pensamentos, a Revista Problemas Brasileiros elegeu 25 palavras e expressões essenciais para entender 2025. Divididas em cinco temas – Política, Economia, Inovação, Sustentabilidade e Sociedade – a reportagem ouviu especialistas em cada em cada um deles. Com reflexão e intencionalidade, as várias pontas soltas do novelo podem ser encaradas como oportunidades para que a transformação em curso se traduza em avanço para todos.

Ao longo dos próximos dias traremos aqui para o site da PB cada um dos eixos analisados na reportagem, que faz parte da edição especial de fim de ano da Revista Problemas Brasileiros.

Confira abaixo as cinco palavras para pensar política em 2025.


PREFEITURAS

É nas esquinas de cada cidade, dos rincões às metrópoles, que os problemas do País ganham materialidade. Por isso, as prefeituras têm papel fundamental nas mudanças que o Brasil planeja para 2025. Soluções de mobilidade urbana, medidas de contingência para eventos climáticos extremos, gestão de resíduos, criação de vagas em creches e melhores postos de saúde são algumas dos setores em que os prefeitos devem agir.

“A assistência social no Brasil enfrenta o subfinanciamento e o aumento da população em situação de rua. Atualmente, os municípios investem R$ 30 bilhões em recursos próprios, enquanto os repasses da União somam apenas R$ 4 bilhões, e os estaduais, R$ 850 milhões”, aponta Jeconias Júnior, secretário-executivo adjunto da Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos (FNP).

A segurança é outra seara que, por vezes recai sobre a esfera municipal. “Um dos principais desafios é o encolhimento do policiamento ostensivo. Em contrapartida, observa-se o crescimento da atuação das guardas municipais, o que levanta questões sobre a formação e os recursos disponíveis para esses profissionais”, afirma Jeconias Júnior.

Todo esse emaranhado de demandas se desdobra num contexto fiscal apertado, com as contas pressionadas pela implementação do piso da enfermagem e pelo aumento salarial do magistério. “A desoneração na folha de pagamentos deve contribuir para aliviar o caixa das prefeituras, mas os prefeitos que assumem em 2025 devem encontrar um cenário menos confortável, do ponto de vista fiscal, do que há quatro anos”, assegura o representante da FNP.

GOVERNABILIDADE

“Estabilidade política é uma reserva de poder para o Executivo, de forma que este possa impor a sua pauta ao Legislativo”, explica o sociólogo e cientista político Paulo Delgado, diretor na Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). Faz tempo, porém, que os executivos brasileiros não conseguem garantir essa reserva. “Veja o caso das eleições municipais: se somarmos as abstenções e os votos nos derrotados, veremos que os governos municipais serão minoritários”, avalia. Diante desse resultado, os partidos acabam formando alianças pós-eleitorais, o que significa que há adversários dentro dos próprios governos.

Para além da falta de força, Delgado destaca que governo e oposição se comportam de maneira irreconciliável, o que cria um estado de tensão permanente. “Você deve criticar o Supremo e o Parlamento, mas não fechá-los. Você deve criticar o governo, mas não querer deixá-lo fora da eleição. Caso contrário, cria-se uma atmosfera de instabilidade social”, afirma.

Há, ainda, o que Delgado chama de populismo fiscal, que acaba por pressionar o orçamento e aprofundar a crise. “É preciso uma agenda econômica brasileira que inclua a oposição. Desequilíbrio fiscal não pode ser de interesse dos agentes políticos, sejam governistas, sejam da oposição. Todas as crises dos últimos 50 anos tiveram origem na baixa sustentabilidade fiscal”, garante.

POLARIZAÇÃO

Nem foi preciso esperar que as eleições municipais de 2024 acabassem para que a disputa presidencial de 2026 começasse. Portanto, ainda que não seja um ano eleitoral, a sucessão ao Planalto vai dar a tônica no xadrez político em 2025. “As eleições municipais são sempre um termômetro, mas isso não significa que a eleição de 2026 será do chamado centrão, partidos que tradicionalmente se saem bem nas cidades e têm interesse em entrar na coalizão de governo”, explica Danilo Medeiros, coordenador do Núcleo de Instituições Políticas e Eleições do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).

A polarização pode se intensificar, mas ainda é difícil prever quais serão as caras da disputa. Com o ex-presidente Jair Bolsonaro inelegível, a direita pode se apresentar dividida. “Vimos uma espécie de racha na direita. A lição que o bolsonarismo pode tirar do pleito em São Paulo é que o melhor é fazer acordos e ter um candidato único”, avalia Medeiros. Do lado da esquerda, a incerteza vem de falas do presidente Lula e da possibilidade de ele disputar um novo mandato, dada a falta de alternativas de peso.

Mais do que a polarização ideológica, o brasileiro parece nutrir uma “polarização afetiva”, diz o professor do Cebrap. De acordo com ele, à exceção da questão das drogas e dos direitos reprodutivos, poucos temas dividem de fato o eleitorado. “Nas ideias econômicas, é tudo muito misturado. O que vemos é mais um sentimento de ‘nós contra eles’, o que é muito perigoso. A polarização tende a descartar o diálogo e reforçar a ideia de que o grupo adversário deve ser excluído da política”, acrescenta Medeiros.

O fenômeno da polarização não é exclusividade brasileira, mas, por aqui, há linhas divisórias menos claras e pode haver enfraquecimento da tendência. “Há quem se diga bolsonarista porque é conservador nos costumes, mas há quem diga que não se importa com essas pautas, que é o liberal na economia. Temos uma zona possível de entendimentos, porque as divisões não são cristalizadas”, aponta o professor.

REFORMAS

Já se vai quase um ano da aprovação e promulgação da Reforma Tributária, que criou o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), de competência de Estados e municípios, e a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), federal. Só no Senado, o projeto recebeu 1,4 mil propostas de emendas. Demanda antiga do setor produtivo, a Reforma Administrativa é outra novela que parece sem fim. Em 2020, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 32 foi apresentada pelo governo de Jair Bolsonaro, mas não avançou. Em maio de 2024, o atual governo instalou uma comissão para discutir o tema, e a previsão é de saia uma proposta em 2025.

Para a Reforma Política, há uma ampla proposição na mesa desde 2022. No entanto, após duas votações na Câmara e outras duas no Senado, a principal mudança que continua no texto é o fim da reeleição para cargos executivos, com mandatos de cinco anos. Sem novo prazo de tramitação, a matéria está em análise na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado.

TENSÃO GLOBAL

O mundo atravessa um período de transição no equilíbrio de forças entre as nações: a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) — entre Estados Unidos e Europa — é desafiada por uma coalizão de potências da Eurásia. Por se tratar de uma mudança estrutural, no curto prazo, as tensões globais devem se intensificar. “A hegemonia está em disputa, e o desfecho é incerto. Podemos ter a reafirmação da hegemonia anterior, a ascensão de um novo grupo ou a multipolaridade”, detalha Ronaldo Carmona, pesquisador sênior do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).

Há, agora, um impasse militar na guerra na Ucrânia, indicando que a disputa não está perto do fim. Carmona destaca que uma escalada para um confronto militar aberto com a Otan, envolvendo países nuclearmente armados, seria o pior cenário. Por outro lado, a via diplomática funcionaria somente com a resolução de pendências profundas — a Rússia precisaria ter garantias de segurança, já que nenhum país admite forças hostis em sua fronteira, e a Ucrânia teria de aceitar a neutralidade, deixando de lado a disputa entre Otan e Rússia. Há, ainda, tensão crescente na relação entre China e Taiwan, o que, na análise do pesquisador do Cebri, trata-se de outro palco da mesma disputa.

No Oriente Médio, há elementos recentes, mas de um mesmo conflito que se arrasta desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Como a questão estrutural não está resolvida, os confrontos são permanentes. Agora, porém, a espiral de tensões ameaça envolver todo o Oriente Médio. A saída estrutural, com a criação de um Estado palestino viável política e economicamente, parece uma possibilidade muito distante. Todas essas disputas são afetadas pela emergência das novas tecnologias da chamada Quarta Revolução Industrial, que altera as forças produtivas em escala global. “A história mostra que quem alcança domínio técnico das inovações, tem condições superiores para estabelecer-se como força hegemônica”, ressalta Carmona.

ESTA REPORTAGEM FAZ PARTE DA EDIÇÃO #484 (DEZ/JAN/FEV) DA REVISTA PB. CONFIRA A ÍNTEGRA, DISPONÍVEL NA PLATAFORMA BANCAH.

Luciana Alvarez Annima de Mattos
Luciana Alvarez Annima de Mattos