25 palavras para pensar 2025

26 de dezembro de 2024

P

Para organizar esses pensamentos, a Revista Problemas Brasileiros elegeu 25 palavras e expressões essenciais para entender 2025. Divididas em cinco temas – Política, Economia, Inovação, Sustentabilidade e Sociedade – a reportagem ouviu especialistas em cada em cada um deles. Com reflexão e intencionalidade, as várias pontas soltas do novelo podem ser encaradas como verdadeiras oportunidades para que a transformação em curso se traduza em avanço para todos.

Com o tema sociedade chegamos ao fim da série que, ao longo dos últimos dias, trouxe aqui para o site da PB cada um dos eixos analisados na reportagem, que faz parte da edição especial de fim de ano da Revista Problemas Brasileiros.

Confira abaixo as cinco palavras para pensar sociedade em 2025.

DESIGUALDADE

Em 2023, o 1% mais rico da população brasileira tinha uma renda mensal média de R$ 20.664 — 39,2 vezes superior à dos 40% mais pobres, cuja renda era de apenas R$ 527, segundo uma edição especial da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O abismo que separa esses dois polos é apenas uma das facetas da crônica desigualdade brasileira. Essa disparidade também se reflete no acesso ao mercado de trabalho — em 2022, o desemprego era de 14% entre mulheres negras, enquanto entre homens não negros era de apenas 6,3% — e na violência, com pessoas negras representando 76,9% das vítimas de mortes violentas intencionais.

Assim como há desigualdade entre indivíduos, existem também disparidades regionais, perceptíveis desde o nascimento. A taxa de mortalidade infantil, por exemplo, é 59% maior na Região Norte (15,01 por mil nascidos vivos) do que na Região Sul (9,45 por mil nascidos vivos). Na primeira infância, enquanto no Sudeste 50,5% das crianças de zero a três anos não frequentam creches por falta de vagas, essa proporção chega a 80,3% nos Estados do Norte.

O mais recente relatório do Observatório Brasileiro das Desigualdades defende que o País precisa, com urgência, monitorar esses contrastes de forma mais assertiva, ampliando o acesso aos índices de estoque de riquezas e aprimorando o sistemas de informação de saúde e dados municipais de cadastros fundiários, além de passar a produzir indicadores sobre racismo ambiental. Afinal, um conjunto sólido de dados é fundamental para construir políticas públicas que possam minimizar, de fato, a desigualdade.

EDUCAÇÃO

Por dois anos, o Ministério da Educação, que trabalhou para reestruturar a coordenação com Estados e municípios, lançou programas como o Pé-de-Meia — que dá bolsas a estudantes carentes do ensino médio — e a Política Nacional de Alfabetização. É esperado que os efeitos dessas medidas não sejam imediatos, mas 2025 será o ano de avaliar se as ações seguiram pelo rumo esperado. “O Pé-de-Meia é uma política cara e o carro-chefe da gestão atual. Vamos ver se teve impacto sobre frequência, aprovação e participação no Enem [Exame Nacional do Ensino Médio]”, ressalta Ivan Gontijo, gerente de Políticas Educacionais do Todos pela Educação (TPE).

Na alfabetização, são os municípios os responsáveis pela implementação da política, que avaliarão se as redes estão sendo capazes de fazer o que prevê a norma. “O regime de colaboração para apoiar as cidades está mais consolidado, então, temos cenários favoráveis. Além da alfabetização, o foco dos prefeitos deve ser expandir o acesso à creche”, afirma o especialista. 

A formação inicial de professores vem sendo avaliada e pode sofrer mudanças na regulamentação, assim como é provável o lançamento de uma medida que discipline o uso de celulares nas escolas. Para o Congresso, a lição de casa é aprovação do Plano Nacional de Educação, já enviado pelo governo ao Legislativo, com as diretrizes para os próximos dez anos. 

E, enfim, as mudanças trazidas pelo Novo Ensino Médio chegarão aos alunos. Espera-se, por exemplo, um ciclo de aumento na oferta de educação profissionalizante. “Temos apenas 20% das matrículas em ensino técnico, apesar da alta demanda. Hoje, esse tipo de ensino é restrito, e a sua expansão é um desafio nacional”, avalia Gontijo. 

SAÚDE

A pandemia de covid-19 não afetou apenas a saúde do brasileiro de forma direta. Indicadores como desnutrição infantil e mortalidade materna pioraram em 2020. A boa notícia é que já há tendência de queda, o que deve se consolidar em 2025. O índice de cobertura vacinal, que teve em 2021 seu pior momento, também voltou a subir. “De maneira ampla, podemos dizer que a saúde está melhorando, mas ainda sentimos impactos da pandemia em doenças crônicas, que deixaram de ser atendidas, e em diagnósticos tardios”, explica Mariângela Simão, presidente do Instituto Todos pela Saúde.

Às marcas da pandemia, juntam-se problemas mais recentes e locais, como a epidemia de dengue. “Essa doença é uma ameaça concreta para 2025, e ainda não teremos vacina para todos. Portanto, o foco deve ser fortalecer a resposta aos casos, evitar que as pessoas morram”, afirma Mariângela. Segundo ela, há protocolos de diagnóstico e tratamento que reduzem a letalidade. 

O País também precisa enfrentar com urgência as questões de saúde mental, em franca expansão desde o ano 2000. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), 23 milhões de brasileiros têm algum distúrbio como ansiedade, depressão, esquizofrenia ou bipolaridade. O Brasil lidera o ranking mundial de ansiedade e detém a maior taxa de depressão da América Latina. Além disso, o suicídio é a causa da morte de 15 mil brasileiros todos os anos.

Outro mal entre as chamadas doenças da vida moderna é a obesidade. Também com o números de casos em alta, pede uma abordagem preventiva e multidisciplinar. “Caberia aos governos tornar as escolhas saudáveis mais fáceis. No entanto, na prática, não há locais para atividade física nas cidades, e o preço dos alimentos ultraprocessados é menor do que dos produtos in natura”, afirma. 

IDENTIDADES

O último Censo do IBGE, de 2022, revelou que 55,5% da população se identificava como preta ou parda, superando a quantidade de brancos pela primeira vez desde que os recenseamentos começaram a ser realizados no País, em 1872. Além disso, a proporção de pretos mais que dobrou entre 1991 e 2022, alcançando 10,2%. Para o próprio IBGE, que usa como critério a autoidentificação, a mudança não reflete apenas a questão demográfica, mas também os fenômenos sociais.  

“As políticas de ações afirmativas e, antes disso, os efeitos dos movimentos de consciências negra e indígena propiciam que cada vez mais pessoas saiam de uma posição encolhida e humilhada pelo discurso da inferioridade imposto pelo racismo e passem a se ver com positividade, afirmação e orgulho”, explica a professora Ika Leite, cocoordenadora do Núcleo de Estudos de Identidades e Relações Interétnicas da Universidade Federal de Santa Catarina (Nuer/UFSC). “A identidade, portanto, não se depreende da aparência de modo naturalizado, como pregava o racialismo científico do século 19. É uma forma de afirmação cultural e política”, destaca. 

Se o Censo dá provas da mudança do perfil étnico-racial, a afirmação de identidades diversas, que abrangem das questões de gênero às etárias, é sentida por todos no dia a dia. “Nas sociedades democráticas e com mais livre-arbítrio, os sujeitos são mais propensos a manifestar suas diversidades, pois podem expressá-las com mais liberdade e autonomia”, afirma. 

INSEGURANÇA PÚBLICA 

Empresas brasileiras gastam R$ 170 bilhões todos os anos para minimizar os danos — como roubos, furtos e violência física — causados pela falta de segurança pública, segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A conta é paga por todos, já que esses custos são repassados aos produtos e serviços consumidos pela população.

E, claro, o montante financeiro significa apenas uma parte do custo da violência, pois esta acarreta danos incalculáveis em termos de medos, traumas e vidas interrompidas. “O Brasil mata 50 mil pessoas a bala e 50 mil em acidentes de trânsito por ano. Não podemos achar que isso é normal”, diz Fabio Pina, assessor da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). 

A criminalidade é real. No entanto, às vezes, a percepção que as pessoas têm sobre o tema não condiz com a realidade. “A Cidade de São Paulo é a capital mais segura do País em termos de homicídios, a despeito de não ser percebida assim”, cita o assessor. O sentimento de insegurança não vem das estatísticas, mas do que as pessoas vivenciam e da sensação de impunidade. 

Melhorar a segurança exige discussões contínuas, sérias e técnicas. “Infelizmente, não é isso que vemos acontecer. A questão só é debatida em ano eleitoral e com viés ideológico”, avalia Pina. Penas alternativas para crimes não violentos, boa zeladoria nas cidades, formas reais de ressocialização e políticas de combate ao tráfico precisam marcar presença na agenda de toda a sociedade.

ESTA REPORTAGEM FAZ PARTE DA EDIÇÃO #484 (DEZ/JAN/FEV) DA REVISTA PB. CONFIRA A ÍNTEGRA, DISPONÍVEL NA PLATAFORMA BANCAH.

Luciana Alvarez Débora Faria
Luciana Alvarez Débora Faria